Esta foto trouxe a fama mundial a Kevin Carter , fotógrafo sul-africano, concedendo-lhe o prémio Pullitzer de 1994 para melhor fotografia.
Em março de 1993, durante uma viagem ao Sudão (país então arrasado por uma longa guerra civil), Carter estava se preparando para fotografar uma criança faminta tentando chegar a um centro de alimentação da Organização das Nações Unidas (ONU) próximo à aldeia de Ayod, no atual Sudão do Sul, quando um abutre-de-capuz aterrizou nas proximidades. Ele relatou que tirou a fotografia porque esse era o seu "trabalho" e depois partiu. Ele foi criticado por não ajudar o menino, Kong Nyong:
O jornal St. Petersburg Times, da Flórida, disse sobre Carter: "O homem ajustando suas lentes para capturar o enquadramento exato daquele sofrimento poderia muito bem ser um predador, um outro urubu na cena."
Vendida para o The New York Times, a fotografia foi publicada pela primeira vez em 26 de março de 1993 e foi repassada para muitos outros jornais ao redor do mundo. Centenas de pessoas entraram em contato com o Times para perguntar sobre o destino do menino. O jornal informou que não se sabia se o garoto tinha conseguido chegar ao centro da alimentação. Em 1994, a imagem ganhou o Prêmio Pulitzer de Fotografia.
O Mundo viu, nessa foto, a morte e a fome, a morte pela fome. A opinião pública apressou-se a julgar e a condenar sumariamente a alegada frieza com que teria agido Kevin Carter, considerando que o fotógrafo poderia, e deveria, ter feito alguma coisa para salvar a criança. Kevin sentiu o mesmo e foi essa dor que o levou a pôr termo à própria vida, incapaz de suportar a ideia de não ter ajudado a salvar uma vida.
No rescaldo do Pulitzer, nem todos se apressaram a condenar a postura do repórter perante a situação que o catapultou para a fama. No dia em que colocou termo à vida, chegavam à casa dos pais de Carter um maço de cartas escritas provenientes do Japão onde um grupo de crianças da escola de Arakawa Ward, em Tóquio, explicavam como a foto do abutre as havia tocado.
Alguns excertos das cartas acabariam por ser lidas no funeral de Kevin Carter: "se eu for apanhado numa situação difícil, vou lembrar-me da sua foto e tentar ultrapassar a situação"; "Até agora fui uma pessoa egoísta"; "Eu tiraria a foto com as mãos a tremer", podia ler-se nas várias missivas.
Aos 33 anos de idade, o fotógrafo suicida-se. Partes da nota de suicídio de Carter diziam:
"Estou deprimido ... sem telefone ... dinheiro para o aluguel ... dinheiro para sustentar as crianças ... dinheiro para dívidas ... dinheiro! ... Estou assombrado pelas vívidas memórias de mortes e cadáveres e raiva e dor ... de morrer de fome ou de crianças feridas, de loucos com dedos no gatilho, muitas vezes policiais, carrascos assassinos ... eu tinha que ter ido junto com Ken (Ken Oosterbroek, seu colega fotógrafo que havia falecido há pouco tempo) se eu tivesse a mesma sorte."
[...]
As palavras acima são recortes de textos que li...
O ser humano sempre é rápido em julgar. Ninguém conhece a vida de ninguém. Quanto a este fotógrafo, diz o relato de um outro fotógrafo, que também encontrava-se no local, que aquele momento foi impar; haviam chegado suprimentos e, devido a fome extrema, os pais deixaram seus filhos por alguns instantes em busca do alimento. Vários outros fotógrafos tiraram fotografias semelhantes, mas foi esta que ganhou o prêmio, por retratar a dor no Sudão. Muitas pessoas criticaram Carter. Ninguém viveu o que ele viveu, ninguém foi até o Sudão ajudar aquelas pessoas. Mas criticaram!
O julgamento não cabe a nós seres humanos falhos.
Cabe-nos a gentileza, a solidariedade, a empatia. Se estivéssemos menos centrados em "nossos próprios umbigos" talvez percebêssemos que se olharmos para nós mesmos e fizermos a nossa parte será suficiente para um mundo melhor.
Referências: